Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (22ª Parte)

Avançava vendo o horizonte na proa de um navio de ouro maciço que navegava o Rio de Ouro. Do céu caía a Água Miraculosa e eu contorcia-me prazerosamente sob as suas gotas numa dança de êxtase. Acordei desse sonho no topo do penhasco. Olhei para baixo e vi um demónio chicoteando fogo contra os condenados. Eles iam andando para uma armadilha e não o sabiam. Um Buraco Negro aspirava todas as almas seiscentos metros à frente. Depois de ter visto, com horror, dez almas serem sugadas desviei o olhar e decidi não mais olhar para lá. Agarrei-me ao Homem Orquestra e começámos a correr, descendo o penhasco. Então começámos a correr e as suas melodias demonstraram que sentia o companheirismo e eu agarrei-me a ele para me esquecer do Inferno e das torturas lá de baixo. Durante doze dias descemos o penhasco. Chegados a uma zona em que o fundo estava bem mais próximo, vi uma diferente tortura, que rapidamente me fez amaldiçoar-me por ter olhado. Pedaços grossos de parede, como torniquetes daqueles que permitem a entrada e logo fecham, abriam e fechavam com diferente cadência, pois se uns fechavam depois de dar passagem, estes fechavam quando davam passagem e as almas penadas que neles sofriam viam-se constantemente estrilhaçadas com violência. Voltei-me para o Homem Orquetsra outra e vez e também ele estava aterrado. Soava como violinos descordenados, num som profundamente tenebroso. Avancei, determinado a não mais olhar e ao fim de um mês cheguei ao fim do penhasco e perfurei um extenso nevoeiro, afastando-me das Cordilheiras da Tortura.

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