Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (8ª Parte)
Cego, tacteei o coto
onde antes se encontrara a minha cabeça. Senti o sangue fervendo e a carne viva
com horror. Aprisionado num corpo deformado era onde me encontrava. Senti uma
forte machadada nas costas infligida pelo meu carrasco, mas para além da dor e
o sangue escorrendo pela pele, a morte não alcançava aquele corpo. Não sei ao
certo para onde me levaram a seguir, pois nada podia ver ou ouvir. Andei com
eles durante anos sem saber o que faziam comigo. Certo dia, com uma afiada
lâmina penetraram o meu coração. Fingi a minha morte lançando-me no chão como
um peso inanimado. Como não corria sangue no meu corpo devido ao coração parado
acreditaram que estava morto. Meteram-me numa maca e transportaram-me para um
sítio qualquer. A pior reccordação desses tempos é não saber mesmo de nada, de
forma nenhuma daquilo que me rodeava. O meu espírito ficou enlouquecido com
esse problema. Dois dias depois tiraram-me de lá e levaram-me para um carro
puxado a cavalos. Quando este parou, chegado ao seu destino, desatei a correr,
estrada fora, mas esbarrei-me contra uma árvore, creio eu. Levaram-me de volta
para os laboratórios e durante anos andei, sem saber onde. Um dia decidiram
queimar-me numa fogueira, pois do nada senti-me fustigado por chamas infernais,
que acolhi com amor, abraçando-me a conchegado-me, áquele calor milagroso, um
dos mais importantes elementos que, através do seu poder supremo sobre todas as
nossas invenções, me libertei daquele prisão corporal.
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