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Corazón Delator (Soda Stéreo)

Um chamariz Há algo oculto em cada sensação Ela parece suspeitar Parece descubrir Na minha debilidade Os vestígios de uma fogueira Oh, o meu coração torna-se delator Traindo-me por descuido Fui vítima de tudo alguma vez Ela não pode perceber Já nada pode impedir na minha fragilidade É o curso das coisas Todo o meu coração se torna delator Abrem-se as minhas algemas Uma leve chicotada uma premonição Evocam chagas nas mãos Uma doce palpitação Uma chave íntima Vão caindo dos meus lábios Um sinal Há algo oculto em cada sensação Ela parece suspeitar Parece descubrir Em mim Que aquele amor é como um Oceano de Fogo Oh, o meu coração torna-se delator A febre voltará Uma leve chicotada uma premonição Evocam chagas nas mãos Uma doce palpitação Uma chave íntima Vão caindo dos meus lábios Como um mantra Dos meus lábios Dos meus lábios Petrogul Al-Saphyria

Cuando Pase el Temblor (Soda Stéreo)

Quando acabarem os espasmos Eu, caminharei entre as pedras Até sentir a convulsão Nas minhas pernas Às vezes tenho medo Eu sei-o Outras vezes vergonha Estou sentado numa cratera deserta Continuo a aguardar a convulsão No meu corpo Ninguém me viu partir Eu sei-o Ninguém me espera Há um buraco no meu coração Um planeta com desilusão Sei que te encontrarei nessas ruínas Já não vamos ter de falar Da convulsão Beijar-te-ei no tremor Eu sei-o Será um bom momento Há um buraco no meu coração Um planeta com desilusão Acorda-me quando acabar a convulsão Acorda-me, acorda-me Petrogul Al-Saphyria

Gosto (50)

Gosto muito da Praza do Obradoiro em Santiago de Compostela na Galiza. A mítica Catedral, que com uma imponência arrebatadora domina a Praça elevando-se até nuvens de sonho, guarda os restos mortais do Apóstolo Santiago, amigo de Cristo, e, por isso, é o destino de milhares de peregrinos que percorrem um mágico caminho até a encontrar, linda, gigante e orgulhosa no centro de Santiago. Quando me sentei numa manhã de Verão a ver chegar os peregrinos triunfantes só me consegui levantar numa tarde atordoada, inebriado daquele perfume de felicidade dos caminhantes. No meio daqueles diletantes eu já não sabia qual deles era, olhava para todos e mudava de lugar, era todos os sítios e todas as chegadas e todas as esperanças. Por volta das 19:00 da tarde as nossas sombras tombam gigantes em direcção à Catedral enquanto o Sol se põe no Horizonte que rejeitámos, pois só olhamos para a catedral e para a sombra dos nossos corpos fatigados. Um copo de vinho pela Irmandade que sempre há na Praça. Tod

Balada del Diablo y La Muerte (La Renga)

Balada del Diablo y la Muerte Estaba el diablo mal parado en la esquina de mi barrio ahí donde dobla el viento y se cruzan los atajos, al lado de él estaba la muerte con una botella en la mano; me miraban de reojo y se reían por lo bajo y yo que esperaba no sé a quién, al otro lado de la calle del otoño, una noche de bufanda que me encontro desvelado entre dientes oí a la muerte que decia así: -"cuántas veces se habrá escapado como laucha por tirante, y esta noche que no cuesta nada nisiquiera fatigarme podemos llevarnos un cordero con sólo cruzar la calle". yo me escondí tras la niebla y miré al infinito a ver si llegaba ese que nunca iba a venir, estaba el diablo mal parado en la esquina de mi barrio al lado de él estaba la muerte con una botella en la mano. Y temblando como una hoja me crucé para encararlos y les dije me parece que esta vez me dejaron bien plantado, les pedí fuego y del bolsillo saqué una rama pá convidarlos y bajo un árbol del otoño

La Renga (Triste Canción de Amor)

Triste Canción de Amor Ella existió solo en un sueño y él es el poema que el poeta nunca escribió. Y en la eternidad los dos unieron sus almas para darle vida a esta triste canción de amor. Él es como el mar y ella como la luna y en las noches de luna llena hacen el amor. Y en la eternidad los dos unieron sus almas para darle vida a esta triste canción de amor. Él es como un dios y ella como una virgen y los dioses les enseñaron a pecar. Y en la eternidad los dos unieron sus almas para darle vida a esta triste canción de amor Triste Canção de Amor Ela existiu só num sonho E ele é o poema que o poeta nunca cantou E na eternidade os dois uniram as suas almas Para dar vida a esta triste canção de amor Ele é como o mar e ela como uma lua E nas noites de lua cheia fazem amor E na eternidade os dois uniram as suas almas Para dar vida a esta triste canção de amor Ele é como um Deus e ela como uma virgen E os Deuses ensinaram-nos a pecar E na eternidade os do

Não Gosto (39)

O Jorge Luis Borges é o escritor mais sobrevalorizado da história e os seus poemas parecem escritos por um atrasado mental a brincar no Jardim Escola das Palavras. É simplesmente terrível, odeio o Jorge Luis Borges e quase tudo o que o rodeia, incluindo o facto de ele ser um pedante, que passou ao lado de uma grande carreira de crítico de literatura (ele escreveu textos ensaísticos, mas se se tivesse dedicado unicamente a eles teria feito melhor). Eu não tenho este ódio ao Borges só pelo facto de ele me ter batido, ele é de facto um mau escritor. Claro que para além de ser um mau escritor ele era uma má pessoa. Eu sei-o porque ele se comportou de forma muito pouco humana comigo... Quando eu tinha 11 ou 12 anos trabalhava em Buenos Aires, na distribuição de jornais, enquanto a minha mãe trabalhava num triste café de uma zona pobre da cidade. Eu era um ardina e distribuía o jornal "El Litoral", que custava, ainda me recordo, 30 centavos. Certo dia, nada mais nada menos que o Bo

Comiseração (55) (P)

Do meu ímpeto vazio espalham-se inadequados quadros, que, dependendo de onde são mirados, criam vultos irados, das minhas múltiplas sombras multiplicados, entes transparentes que habitam o cérebro doente e o povoam com opiniões contraditórias, milhões de trajectórias para um corpo se despenhar como um meteoro de desilusão no dia em que se lhe afigurar a Razão. Nadir Veld

Como cometer suicídio (Capítulo 1 - Armas de Fogo)

Como cometer suicídio (Capítulo I - armas de fogo): Quando o suicida possui uma pistola e quer morrer disparando sobre si próprio porque não tem vergonha de destruir a própria cabeça, nem nojo futuro pelos outros que o encontrarão, deve pegar com segurança no cabo da pistola (se se sentir a suar ou a tremer, o suicida deve aguardar um pouco até estar mais seguro), soltar o cão, para desencravar a arma, apontar o cano da pistola contra a parte lateral da própria cabeça, enterrando-a através do cabelo sem medos e depois deve pressionar o gatilho. Em princípio, tudo estará desligado depois do gatilho ser premido.

Como cometer suicídio (Introdução):

O indivíduo que pretende acabar com a própria vida tem à sua disposição um vasto leque de hipóteses por onde escolher. O mundo moderno proporciona ao homem muitas formas de acabar com a própria vida, tantas, que por vezes elas estão mesmo debaixo do nosso nariz e nem damos por elas. O objectivo deste livro é compilar as formas de suicídio, umas mais quotidianas e ao alcance de todos, e outras mais complexas e difíceis de concretizar.

Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (Parte 72)

Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (Parte 72) Caído de repente numa clareira, espaço vago, sem árvores, onde vou acordando, piscando os olhos, procurando ver onde estou, a visão doce sentido, tanto tempo depois...tenho os olhos livres para contemplar a Natureza, ah...toda esta floresta para os meus olhos percorrerem, glorioso dia este em que acordo....ah, num caminho tranquilo entre as árvores e avanço pelo sossego do meu espírito, não quero sentar-me pois temo que algo de mau aconteça se o fizer, por isso aguento e avanço, mas depois fiquei demasiado comovido pela calma pelo que me deitei e tentei adormecer, mas depois levantei-me porque estava acordado e eu sei o que adormecer significa neste mundo. Adormecer significa perder a realidade, deixá-la escapar por baixo dos nossos pés e depois, perde-se tudo e é assim, não devemos parar para dormir. Pelo menos era o que eu achava, mas nesta realidade tudo está mal de qualquer forma. Foi por isso que começaram a aparecer as vespas. E

Gosto (49)

Gosto daquilo a que chamo o som do fezaiar , que consiste no som de fogo a ser bruscamente apagado em água e faz aquele fzzzzzzzz  glorioso. É, de longe, o meu som preferido. Num dia muito triste cheguei a estar meia hora a lançar fósforos de forma muito reflexiva numa poça de água criada pela chuva enquanto a contemplava com um olhar vazio. Numa outra ocasião estive melancolicamente a aspergir água para a lareira de minha casa, só para me deleitar com aquele som maravilhoso (a brasa ganha força pouco depois de levar com a água, pelo que dá para fazer isso durante muito tempo).

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (12 de Dezembro de 2015)

Hoje acordei assombrado por esta ideia de que já todos estamos mortos. Todas as pessoas com que sonhamos, com que vivemos, com que nos divertimos são futuros cadáveres que inevitavelmente desaguaram, desaguam e desaguarão sempre no Grande Lago dos Mortos. A altura em que isso acontece é só um pormenor. Um pequeno pormenor dependente do Tempo, esse fenómeno que estende as suas asas imensas entre as eternidades, mas pode ser controlável como Unidade que é. Se olharmos para o tempo como uma Unidade podemos facilmente avançar e recuar na sua linha, que traçou, traça e traçará deleitosos destinos na História, fazendo nascer comoventes narrativas com que nos preparamos para criar as nossas. Se vogarmos livremente pelo tempo não teremos dificuldade em encontrar os momentos anteriores à nossa existência, podemos ver o momento em que nascemos, toda a nossa vida até à nossa morte, ver como ela é estupidamente insignificante no Eterno e depois contemplá-Lo até aos tempos infinitos, bem para lá do

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (5 de Dezembro de 2015)

(Estou roto de morto, cansado e meio torto) Há muitos anos que não encontrava uma frase tão perturbadora como esta perdida entre os meus escritos. Estava numa folha branca em letras maiúsculas alucinadas. Deve ter sido escrito num devaneio final dos meus três dias sem dormir...Apesar de ter estado três dias acordado tive dificuldade em adormecer. Tenho muitos espíritos para acalmar na hora de me sossegar, mas mesmo assim são das almas mais calmas do mundo. Um inútil. Eu não tenho nada a ver com explosões.

Três linhas enfiastadas

Ele viu a verdade concreta e Entre sonhos e lágrimas concerta Lenta corrida em direcção à morte certa Há sempre uma entidade secreta Que na vaga escuridão concerta Lenta corrida em direcção à morte certa Sebastião morreu na guerra é certo Mas ainda deixa tudo em aberto Para um português que não é esperto Ele já tinha a ferida aberta ... Lenta corrida em direcção à morte certa

Acédia

Quatro livros ao meu redor Uma lua a virar sol A minha vida no lençol Presa e indefinida No turbilhão do girassol Concêntrico grito solitário Espalhado na espiral Couraça da força mole e pegajosa Que escondida na escuridão concerta Lenta corrida em direcção à morte certa

Não Gosto (38)

Não gosto de ter sujidade encravada na unha, porque quando tenho, tento tirá-la com as outras unhas impolutas e sujo também as unhas que estavam limpas entranhando nelas pelos negros que sobressaem na brancura da ponta do dedo. Então começo a tentar tirar a sujidade da unha que acabei de sujar e volto a sujar o dedo que acabei de limpar, entranhando outra unha e reparo que as minhas mãos se transformaram em duas retro escavadoras idiotas incapazes de resolver uma situação bastante simples. Sentimo-nos estúpidos e inúteis mais uma vez. E é assim...

Comiseração (53) (P)

Esta acédia Que me assedia Mais forte de dia para dia Nadir Veld

Introdução do Ilustre Doutor Zenitus Dohktori-rya + Comiseração (52) (P)

DEFORÍZIA Reflexão sobre o olhar externo Uma doença do foro espiritual descoberta pelo Eminente Zenitus Dohktori-rya e nomeada deforízia, caracterizada por visões do próprio corpo a partir de um ponto de vista exterior, como se o mundo fosse um espelho em que as sombras adquirem deformações impressionantes e apenas retransmitem o caos ao indíviduo, o caos de se rever de perspectivas absurdas e imprevisíveis. A imagem de si, muitas vezes projectada de forma a se auto-denegrirem, persegue-os. É como se vissem sempre o negativo da vida, tão congelados que estão num quotidiano que não tem felicidades nenhumas...Como a vida é infértil para alguns pobres coitados...O Nadir Veld sofre de deforízia ...e também por isso ficou maluquinho... Comiseração (52) Quantas vezes não dei por mim já fora de mim a observar os meus gestos patéticos e a ver! A ver como é possível proceder assim e não como num filme romântico em que toda a hora é a hora de triunfar esteticamente na batalha contra

Comiseração (51) (P)

Oh, Meu Deus, os lençóis da minha cama estão a tentar matar-me e, ainda por cima, estão a variar os métodos para a concretização dos seus diabólicos planos. Hoje os lençóis enrodilharam-se todos, porque já não faço a cama há muito tempo e começaram a prender as minhas pernas como se fossem os tentáculos gigantes de um polvo para me aprisionar e eu, não conseguindo sair, tive de desatar-me com as mãos durante dez minutos. Os meus pés estavam presosoutro dia estavam de tal forma quentes e confortáveis que eu não consegui sair da cama, pelo que fiquei deitado 5 horas para lá das horas da minha obrigação! Oh meu deus os lençóis da minha cama querem matar-me! Hoje escaparam-se e acordei na tristeza fria de uma lágrima de um daqueles sonhos que queremos que tenham sido reais e encaixamos num espaço bonito do nosso passado, mesmo perfeito, e nos convencemos momentaneamente que aquele momento cristalizado pelo subconsciente alucinado é a realidade pura, até que a manhã lava essa miragem e acor

Esquizo (projecto inacabado)

Dá-me uma doença com um nome Uma doce pérola Um caminho para já, mesmo que ele dê em mil caminhos Que são só destinos paralelos dados pelo tempo indefinido (Será mesmo que já passou?) Terão sido isto as horas? É assim que te chamam? Sem saberem o teu nome? Esqui, Esque, Esquece, esquizo, esquizozo, Esquizofrântico... Velai-me esta noite A candeia está acesa Com fogo de certeza Amigos, dai-me a esperteza De evitar um novo açoite De me perder nesta noite Me desmanchar nesta noite Todo o ritmo é uma nota para a noite E toda a noite nada no ritmo das estrelas Cruzando os rios à luz de imaginárias velas Dos anjos que me acompanham Esqui, Esque, Esquece, esquizo, esquizozo, Esquizofrântico... Petrogul Al-Saphyria

Comiseração (50)

Com um frio de morte à espera que o ecrã ligue e a luz me diga que caminho tomar com os meus pensamentos e então os meus dedos automáticos tratam de tudo e dirigem-se a cada uma das preciosas letras que conjugadas formam tudo e não formam nada, desenham preces na escuridão para serem lidas pelos demiurgos da nossa salvação. Os requisitos foram aceites podemos navegar pela nuvem.

Sem titukajsaihdfh

São 5 da tarde na casa mais desarrumada do planeta Uma foto arrastada com uma luz e outra treta Na almofada os livros repousam todos os seus corpos Porque não têm cabeça amontoam-se dispersos Como o?... São 5 da tarde da minha consciência arrebitada Carolina parece que dança Enquanto nos meus sonhos balança Segura entre os dois mundos Analúcia está sempre tão lúcida E isso deja vestígios na sua alma púdica Mas pode ainda encontrar a pureza búdica A Vitorina vitoriosa veperina Voltou a vender alma E isso fez-me pensar O Agreste António e a Conceição Preparam uma refeição Com vitelos e cabras à descrição Velados por velas em bela disposição Sob candelabros de ouro em procissão Era a fineza O orgulho de uma geração Mas nem tudo correu com a perfeição planeada Dos Deuses apenas Baco apareceu com disposição Para alçar as armas e fazer soar o canhão. Quatro dos duzentos convidados iniciaram um motim bem para fora das portas do salão

Comiseração (48)

ESQUECES-ME DA NOITE PARA O DIA COM UMA FRIEZA QUE ARREPIA AGORA A MINHA ALMA VAZIA PERDEU TODA A SUA ALEGRIA NADIR VELD

Comiseração (47)

Oh Meu Deus, a Vida está a tentar a matar-me! A vida não pára de disponibilizar-me tempo para eu morrer, enquanto sofro todas as minhas preocupações que não consigo acalmar, todos os problemas pendentes aí sempre por resolver, nas prateleiras da vida! Nadir Veld

Comiseração (46)

Eu não colecciono selos, muito menos noites sem medos. Sim, noites sem medos obscuros são coisa que não surge depois dos meus bonitos pores do sol há mais de...há mais de...não há memória. Agora não me serve a memória para me lembrar, mas eu sou uma pessoa que só guarda as más recordações para a comiseração posterior...as melhores é melhor deixá-las de parte, esquecê-las para que não sejam perturbadores obstáculos para os nossos obscuros cada vez mais escuros devaneios. As minhas pernas estão a tentar matar-me! Vejam como elas não param de tremer e eu só quero adormecer! Mas elas não param e eu fico a olhar para elas...estupidamente a olhar para a elas a vê-las tremer...estremecer toda aquela inquietação...e depois...as horas...o tempo não pára de passar e eu não consigo descansar! Ver as horas duas vezes por minuto é um prenúncio de...um prenúncio de que o tempo está parado ou de que nós estamos parados no tempo. Sim...as horas...04:22...meia hora depois 04:22 e vemos o relógio passa

Comiseração (45)

Oh Meu Deus a minha indecisão está a tentar matar-me! Eu não consigo fazer aquilo que tenho de fazer! Eu consigo fazer muitas coisas...por exemplo, isto aqui...eu posso estar a fazer isto, mas isto não é o que eu preciso de fazer! Muito pelo contrário, eu até...hum?...Eu não...eu queria estar a fazer aquilo que tenho de fazer, sobretudo porque...isto é estúpido...estou aqui a folhear as páginas de um livro que nunca vou ler...não...não é isto que tenho de fazer...mas a decisão...tenho de o fazer...é agora, mas as janelas estão mais visíveis que as portas e ....e se calhar é mesmo por lá que vamos sair...sim...o cérebro cessará de arder! com a velocidade do corpo...a velocidade do corpo louco e então... a decisão...sim a decisão seria irrelevante...o meu corpo morto jamais poderia sofrer as consequências...sim...as consequências da indecisão...por isso ela era irrelevante...se calhar até serei elogiado brevemente por aqueles que atraiçoei e enganei saltando...NÃO. Hoje saio pela porta d

Comiseração (44)

O meu peito resoluto já não sabe aonde há-de ir, mas nem por isso perde o fôlego e por isso resfolega sempre mais e mais neste lugar onde devia habitar uma alma, mas não habita coisa nenhuma! É só uma moradia insatisfeita que gostava de ser habitada...um vazio que faz bater todas as portas de uma vida fantasma. Por mais que se corra e se saia não se sabe nunca ao certo aonde se vai quando se tem o cérebro em chamas. É como se fossemos um navio que não controlamos e as coisas vão acontecendo...sim...as coisas vão sucedendo, mas o controlo não o temos. Somos vida indiferente do corpo a definhar. A vida...a vida é que definha, não sei se entenderam...É preciso ver todas as coisas a acontecerem a todas as outras coisas e vice-versa. Só então vimos tudo e abarcamos tudo e podemos tomar uma decisão e a decisão é...a decisão é a indecisão de ficar à espera, no limbo da tristeza entre a sombra e os dias e um disparo lunático rumo ao infinito. A decisão é ficar gritar as palavras mais angustian

Comiseração (43)

Como é que me posso ter atrevido a acreditar que podia ser feliz? Já há muito que a vida me mostrou de forma terrível que isso não é uma coisa que esteja ao meu alcance, não é algo que eu mereça; contudo continuo a deixar-me iludir por promessas falsas e depois acabo por me desiludir e caio em longas depressões com delírios psicóticos projectando na minha consciência imagens, palavras e ideias demenciais a um ritmo frenético e incessante que me impedem de esquecer toda a humilhação e toda a dor. Com quem é que estas pessoas bem sucedidas falaram? O que fizeram elas para chegar a esta posição toda sorrisos, a esta felicidade que espalham nestas alegres ruas que me deprimem e me fazem sentir ainda mais angustiado pois me mostram a felicidade inalcançável mesmo à minha frente, como se ela estivesse zombando da minha depressão Eu só queria aquelas gargalhadas despreocupadas da multidão, mas só tenho o meu próprio choro quase inaudível a esmagar os meus pulmões um contra o outro... Na

Comiseração (42)

Oh Meu Deus, os meus pés querem matar-me! Estou farto de andar, Jesus Senhor. Este movimento patético e repetitivo nunca mais cessa, continuo a avançar de forma idiota e inconsciente, sem saber muito bem para onde estou a ir e cada passo que dou parece que ecoa pelo chão até às entranhas da Terra um som imenso, que me enche os ouvidos e não me deixa espaço para ouvir mais nada, como se a cada passo que dou desse uma terrível martelada no meu coração que afecta o meu cérebro como se ele estivesse a ser perfurada por uma furadeira eléctrica metálica. Estou completamente farto desta marcha sem direcção e desta música que os meus pés fazem no chão. Qualquer dia ponho uma venda nos olhos e largo a correr mundo fora. Nadir Veld

Zenit Hil da Jainkoa

Enquanto analiso a profundidade da alma humana, não ergo barreiras em lugar algum. Todos os recantos do mundo são dignos da minha exploração e não traço a minha fronteira nem às portas da loucura. Atravesso as linhas invisíveis que dividem os homens e instalo-me confortavelmente nas salas em que planeiam a minha morte ilegal. Escuto os seus planos maléficos e rasgo a minha camisola oferecendo-lhes as minhas carnes para que eles a chicoteiem e punam conforme quiserem. Nem pestanejo enquanto as chibatadas me são aplicadas. Pelo contrário. Mantenho os meus olhos muito abertos fixos nos meus carrascos. Assim, eles percebem a minha indiferença e a minha força. Só descansam quando percebem que eu estou morto, chamam médicos e professores para me analisarem. Eles confirmam o meu estado de cadáver e só então sou libertado, deitado fora, mas, como é óbvio não estou morto. A minha morte é uma rota ilusão para os facínoras. Tenho 100.000 anos de luta nos meus membros desgastados e continuarei a a

Comiseração (41)

E é assim acordamos sóbrios para mais um dia no inferno Depois de nos termos deitado Jurando não mais acordar  E é assim acordamos óbitos súbitos julgados em púlpitos por faltarmos à vida não assinando prestações imóveis E é assim acordamos incrédulos no reino apático que construímos para sossegarmos o clamor silenciarmos o langor mas sobretudo sobretudo para abafarmos abafarmos o uivo de terror Abafamos e cobrimos o rosto enquanto se contorce E de manhã a máscara está sorridente depois de um banho água gelada e um cobertor A cara está pronta para receber o promotor E é assim adormecemos com esperança de não acordar deste lado da vida Nadir Veld

Comiseração (40)

  Tudo o que podia acontecer, já aconteceu Sim...tudo bem...eu admito que errei. Não devia ter ligado ao apelo das sombras, mas deixei que ele me seduzisse e me consumisse e agora é demasiado tarde para regressar à realidade. Ela está povoada de novidades e gente que pode ser do passado ou do futuro, mas muito pouco provavelmente é do presente, tão pouco comunicativa parece querer estar comigo. Eu sei porque viajo no tempo. Já vos disseram que o tempo é uma coisa plana e circular? É complexo como um tabuleiro de xadrez em que já todas as combinações possíveis foram jogadas e todos os mais dementes xeques-mates foram desenhados.É uma mesa em que já todos os dados foram jogados. Tudo o que podia acontecer, já aconteceu e é imerso na certeza dessa insubstancialidade que acordo todos os dias para os meus pesadelos diários...Pudera congelar-me a mim próprio. Talvez as minhas lágrimas formassem belos fósseis para as gerações futuras ou passadas, que isto como andam os ventos não se sabe em

Haiku

Pensamentos Latejantes Nos olhos Lacrimejantes Na têmpora a explodir

Onde estão os antiparambidualistas?

Anti-Parambidualistas -  Aqueles procuram uma terceira via, que pode ser inexistente. São os se opõem á Ciência que aceita a divisão em apenas dois, num par, das mais importantes coisas (Homem e Mulher, o Bem e o Mal, a verdade e a mentira, etc). O seu lema é  Não espalhamos a verdade nem a mentira, somos quem atira no Homem e na mulher porque queremos uma terceira via, há o Certo e o Errado, nós somos o outro estado, há o Bem e o Mal, mas nós estamos noutro lado. Versão 1 Ha duas coisas sempre e duas apenas: O Bem e o Mal O Feliz e o Triste O Terror e a Paz As palavras andam aos pares A contradizer-se Só há duas coisas e nada mais E tu vais escolher sempre a pior Versão 2 Onde estão os antiparambidualistas? Ha duas coisas sempre e duas apenas: O Bem e o Mal O Feliz e o Triste (foste tu que pediste?) O Amor e o Ódio A Verdade e a Mentira (A paixão com que conspira!) A Vida e a Morte O Terror e a Paz As palavras andam aos pares A contradizer-se Só há duas co

A Morte espalha o caos na vida

Sorrateira como sempre e imprevisível até à eternidade (o que quer que esteja vivo, vai morrer e pouco importa se sabe isso ou não), a asa da morte cobre todos os sonhos sorridentes e enquanto a recolho, vejo como a sua acção afecta terrivelmente aqueles que a ela assistem e que têm de se despedir do cadáver...os parentes...aqueles que...que dizer, que falar...que pensar senão no fim que se está a aproximar...são palhaços tolos a caminhar para cadáveres com tropeções dignos nos desníveis do mundo. É natural que chorem mais quando vêm a morte sangrenta...mas eu estou sempre aí à espreita, em Paris numa rua caótica, no Líbano no colapsar de um edifício sobre uma pobre família com um Cristo tão lindo em belas palhas deitadas...um inocente puro...A estrela da morte Alvos Millar

Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental

Coro de vozes de choro no desamparado hospital Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Se tentar voar não pode ser um erro acidental Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Ataques de imaginação prenunciam colapso cerebral Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Não consigo ser frontal Sou muito pouco temperamental Como esse é o meu erro fatal Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Se sonho com banhos em sangue rival É porque não suporto mais este apocalipse sentimental Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Num mundo em que estar vivo é ilegal, um sonho irreal Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Presidentes e Generais a tentar destruir o mal Tu Perguntas 'qual é qual'? Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Analistas, comentadores à procura do fundamental De uma verdade vital Mas é só um jogo experimental Não se deixem enganar pelo doutor Ajintal A sua verdade impoluta é só um go

Comiseração (39)

Oh Meu deus, a minha orelha esquerda está a tentar matar-me! Ela está a arder, vermelha e quente na minha cabeça de faiscantes pensamentos alucinada. Quem estará a falar mal de mim? Ainda se fosse a orelha direita a queimar...Sim...Alguém estaria a falar bem de mim...A desenhar o meu rosto com corações nas fotos da sua imaginação e encontrando esperança nos meu jeito descontraído, ou assim, mas não! É a orelha esquerda que arde e parece que nasce um fogo que se espalha para o meu cabelo e então já sabem, eu grito queimado agarro-me a cabeça intacta, mas tão não intacta assim, intacta para quem vê por fora, mas por quem a sente...é diferente, mas mesmo assim apago o fogo, mas o fumo não pára de sair do meu cabelo e toda a gente olha para a minha orelha em alta voltagem, carne viva já, carne viva, já!! Estava no metro com o sistema auditivo semi-destruído. Quem estaria a falar mal de mim? Quem accionou este mecanismo trágico? A minha orelha esquerda avisa-me, mas, com isso, mata-me. Cai

Comiseração (38)

Vivo num Paraíso que não existe, mas ainda assim insisto em não chorar quando o conquisto.É neste lugar inconcreto que posso ser feliz. Um lugar onde os sonhos ainda aguardam concretização, em que eles ainda não foram desfeitos. Só regresso a esses sentimentos porque viajo no tempo sem querer e recupero essas doces esperanças lá no fundo da minha memória, porque sou pensador melancólico, mas então acordo para a realidade a arder e são só pesadelos, mas eu acordo e então é que são os maiores pesadelos...Quão alucinante, acordar de pesadelos nocturnos para os pesadelos da minha vida quotidiana, sempre ideias repetidas, convencendo-me que está tudo errado...a minha vida é pior que um delírio aumentado...E depois estou de volta ao Paraíso, mas cinco segundos fora dele são um pânico em palavras transformado... Nadir Veld

Paris, Sexta feira Treze + Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (14 de Novembro de 2015)

No céu notícia do inferno O número cem Na raiz do mal Terráqueos disformes no coração vital Numa capital do mal A surpresa é o final para o medo total A morte, o ódio fatal Congelados nos olhos no instante fulcral Em que gravamos os rostos que amamos ou odiamos. Se somos todos loucos ou sãos devíamos percebê-lo com um sinal Já pensei que ninguém quer acabar com o Daesh...não sei porquê, mas os políticos preferem que vivamos com medo...é terrível...acordem...Destraum o Daesh com todas as vossas forças, tropas unidas, nações unidas....!Que mais podemos fazer a não ser pensar em destruir os centros do ódio? os lugares vitai...aquela fonte de palavras...só pena...só sangue e medo neste mundo louco...olha o que se passa, olha o que acabou e então, de novo o fluxo em que vais leva-te para lá de ti próprio, no barco desgovernado da tua vida,,,pois sim, mas Paris? Eu fui morto com todos os que morreram nesse dia, não só em França, mas um pouco por todo o mundo eu morri até em camas de

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (7 de Novembro de 2015) P

Estava a passear na Rua Augusta quando vi uma mendiga com todo o aspecto de ser uma grande drogada a coçar loucamente a sua enorme barriga de grávida, como se aquele bebé se tratasse de uma protuberância alienígena. Quando passei mesmo junto dela e vi o seu aspecto mais de perto e os gestos frenéticos que ela estava a fazer coçando a própria barriga tive um dos meus ataques de fúria misturada com delírio e tive de me agarrar à cabeça para controlar as convulsões porque o cérebro começou outra vez a fervilhar a uma velocidade e com uma intensidade indescritível e tive de dirigir-me para uma rua secundária e sentar-me no chão, porque não estava a suportar aquelas emoções em colapso. Uma mendiga grávida! Nunca na minha vida tinha visto uma mendiga grávida...e aquele bebé...ainda nem tinha nascido e já estava mais que condenado à mais miserável das existências, com uma mãe daquelas! Mas...quem é que teria feito um filho naquela mulher monstruosa? Quem se teria sentido atraído por aqueles o

Não gosto (37)

Não gosto da sobredescrição que certos autores acham conveniente fazer das actividades náuticas das personagens dos seus livros . Estou a referir-me àqueles livros que têm passagens que por vezes duram páginas sobre como os marinheiros coordenaram os mastaréus na acastelagem, puxaram as alantas para que ninguém se aproximasse da carlinga (mas não a carlinga da mezena), tiraram a adriça com o massame fazendo girar as manivelas do molinete para amainar as velas enquanto grivavam pelo Oceano fora, orçando na direcção do vento, até que rizam a vela para a retranca e usam a serviola para astrear o sapatilho para definir o sotavento, enquanto se reúnem na valuma para definir a direcção da tala e se defenderem da refrega antes que a quilha poleame o porão ou o quadrante. Quando estou a ler um livro, em princípio não quero tirar um curso de ciências náuticas em vinte páginas. Quero que me falem das personagens/pessoas e das suas emoções, acima de tudo...no fundo é só isso que me interessa.

Comiseração (37)

Oh, Meu deus, o meu passado está a tentar matar-me! As recordações afluem dispersas, mas sempre perturbadoras à minha mente deprimida e escalonam angústias bem concretas no meu peito instável, pelo que, por vezes, nem sou capaz de respirar sem sentir o meu peito opresso, como se a minha alma estivesse a fazer pressão sobre os meus pulmões empurrando-os para a ofegante loucura pura. Os que me rodeiam perguntam-me se estou assustado, se estou bem. Claro que estou bem, que raio de pergunta! O que tens para mim, uma consulta num psiquiatra e uma caixa de comprimidos para fazer de conta que está tudo bem? Sabem onde podem enfiar esses comprimidos? E essas consultas e esse psiquiatra, inventor de doenças, mais todos os vossos conselhos de merda? Sabem? Então façam-no! Espaço não vos falta para os meterem lá a todos e ainda sobra algum para uma divisão do palácio da Rainha de Inglaterra com um daqueles móveis folhados a ouro e um daqueles candelabros de tecto com muito vidro e as velas todas

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (12 de Novembro de 2015)

Ao ver-me ao espelho fico fascinado com estes olhos tão envelhecidos, olhos tão endurecidos. Ver é sofrer e viver a ver sofrer faz os olhos arder angústias até ao dia da alma morrer. Embelezo a minha expressão com estes olhos fascinantes, olhos tão evidentes. Não há dúvida nenhuma de o que estes olhos estão a pensar, estes olhos tão verdadeiros, estes olhos de vida cheios que transbordam em raios intensos o sentimento desta alma pura. Amo a vida com a compreensão absoluta de quem já enfrentou sozinho toda a escuridão do mundo, com a resolução de quem já ousou atravessar o inferno e não se importa de lá voltar para buscar o que lá não deixou e até outras coisas. Ouvem-me falar com este olhar? Vêem a vibração desta voz?

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (11 de Novembro de 2015)

Quando acordo, passo as minhas mãos lentamente pelo meu corpo ainda quente do sono restabelecedor e penso em toda esta carne efémera que cobre os meus ossos e imagino-me no caixão, fazendo o mesmo gesto enquanto esqueleto, passando a minha mão despida de carne e apenas de ossos constituída pelas minhas costelas e imagino o som que faria, um som tão musical. Faço percussão com os meus distintos ossos, percorrendo o meu corpo melódico buscando os mais belos sons. Toque onde tocar o som está sempre a mudar. Gosto particularmente de tocar com o osso da ponta do dedo indicador com um ritmo melódico no centro do meu crânio vazio. O som ecoa muito belo. Serei um esqueleto musical na minha tumba solitária e divertir-me-ei a mim próprio até para lá da eternidade.

Comiseração (36)

Evito as salas em que se fazem grandes reuniões para tratar do meu futuro, simplesmente não ponho lá os pés e deixo que decidam por mim, que façam tudo por mim, aliás a minha presença lá só poderia prejudicar-me, uma vez que eu não consigo coordenar muito bem as palavras nem lembrar-me do que devo dizer nas situações mais cruciais, parece que a minha mente se congela, ou anda para trás, ou anda para o sítio oposto àquele em que todas as outras pessoas estão a ir, ou está a subir para o céu na direcção de um desértico vazio habitado apenas por pó de estrelas e é lá que pairo, acima de todos os outros, mas abaixo de todo o mundo, servindo servilmente os interesses dos poderosos apagando a minha intensa chama, abafando o clamor imenso da minha fúria justificada. Eu não tenho um carácter forte; sou completamente incapaz de traduzir os meus pensamentos e as minhas certezas em acções. Sou incapaz de impor o meu ponto de vista, tão grande é o meu ódio em relação às opiniões e às pessoas que

Gosto (48)

Gosto de pessoas que pegam em determinados objectos como se esses objectos fossem outros objectos. É uma forma de se relacionar com as coisas algo esquizofrénica que me interessa e me encanta de sobremaneira. Um excelente exemplo de uma pessoa a pegar numa coisa como se fosse outra coisa acontece no filme "Aguirre, o Aventureiro", quando Kinski pega num macaquinho como se não fosse um ser vivo e o atira para o chão do barco como se fosse uma porcaria qualquer.

Comiseração (35)

Sempre que tenho alguma coisa importante e inadiável para fazer, a minha consciência é invadida por um agressivo fluxo de palavras insanas que nada têm a ver com aquilo em que eu devia estar a pensar. De um momento para o outro, fico completamente incapaz; tenho de deixar o que estava a fazer e fico parado como um idiota, a ver afastarem-se lentamente todas as esperanças de sucesso e conquista pessoal (todas as  minhas obrigações perante o mundo real), ainda ali, alcançáveis a um estender de mão, a um pequeno esforço, mas fico completamente incapaz, como se tivesse sido petrificado por um Deus cruel e dedico-me a lutar contra esta força maligna que está dentro de mim e me prende totalmente a atenção, então, começo a escrever o fluxo, a despejar todas aquelas palavras, mas elas não têm nenhum sentido, não querem dizer nada, parecem existir apenas para me desviar do que realmente preciso...é como se o meu cérebro fosse o meu principal inimigo e tivesse declarado guerra à minha alma, à mi

Comiseração (34)

Está a apetecer-me partir uma unha, ou morder o dedo todo até o sangue surgir e os dentes pontiagudos se terem saciado da minha própria carne fresca. Haverá melhor alimento que o nosso corpo? Pergunto-o enquanto olho as minhas mãos e o meu olhar cai no dedo indicador já sem unha, em carne pura. Em certas partes já se viam os ossos. Parte de uma longa tradição familiar ficarmos a roer ossos enquanto bebemos cerveja depois de uma refeição. Eu não senti qualquer dor ao roer o osso do meu dedo. Digo mais, a carne estava saborosa, e o sangue uma delícia. Era uma coisa tão fácil de fazer como roer uma unha. Então, comecei a comê-los a todos. Primeiro o gordo, o polegarzinho, muito engraçado e fora da ordem, por último, o outro polegarzinho, recompensado pela sua beldade cósmica. Em duas horas comi todos os meus dedos. Com um serviço destes quem precisa de KFC? Nadir Veld

Comiseração (33)

Se ao menos não houvesse reflexos no mundo...Ah, assim talvez pudesse ser mais suportável esta minha inexistência permanente, mas, ao ver a imagem do que eu sou projectada mesmo à minha frente, mimetizando todos os meus gestos, recorda-me. Recorda-me todo o passado, todo o futuro e arrasa brutalmente com o meu presente. Fico completamente fora de mim...Levo as mãos à cabeça para conter toda esta cólera, para, com massagens relaxantes, acalmar o intempestivo fluxo de ideias...duas mil palavras por minuto...turbilhão puro...fecho os olhos...será que a minha imagem também se esfuma do meu reflexo sempre que fecho os olhos? Eu deixo de a ver...mas não está aqui ninguém a quem possa perguntar, com quem possa esclarecer a dúvida... Se não existissem espelhos, nem outros reflexos, nenhum de nós teria a mínima noção de como era, teria de viver com as descrições de terceiros, e assim imaginar a sua cara com o mesmo esforço que fazem os leitores com as personagens descritas. Não havendo reflexo

Comiseração (32)

Oh meu Deus, a minha carteira está a tentar matar-me, e o que importa mais nem é a quantidade de dinheiro, mas a quantidade de moedas! Posso ter vinte notas dentro da carteira que não é isso que a faz atacar-me, são as moedas! As pesadas e volumosas tilintantes moedas acumuladas na carteira! Eu não me posso sentar em cima dela!... coloco-a no bolso de trás das calças...e depois sento-me e há um enorme desnível entre a parte direita e a parte esquerda, desnível que causa um desequilíbrio não apenas nas costas, mas também na parte mental da cabeça...Que ridículo devo parecer à vista de todos, com a minha nádega direita sentada em cima de um monte de moedas e a minha nádega esquerda enterrada na cadeira, pateticamente, completamente desnivelada. O mais grave é que a minha consciência se esquece sempre de tirar a carteira, pelo que fico sempre sentado em cima dela por mais moedas que tenha e só me lembro quando sinto as minhas costas se queixam e os meus ombros já estão completamente desal

Comiseração (31)

Oh meu Deus! O meu cabelo está a tentar matar-me! Está a abafar a minha nuca, provocando um calor insuportável no cérebro, que, sobreaquecendo, dispara em maléficos pensamentos potenciados em todas as direcções e o meu coração acaba sempre cravejado de setas e os meus olhos cheios de lágrimas. Mais que isso! O meu cabelo está a cair sobre os meus olhos com pontas espigadas, como aço, sim dardos de aço, a entrarem-me pelos olhos, perfurando lentamente a carne, mas se fosse só isso! Como palha, que me entra pela boca a todo o momento, então vejo-me com todo este cabelo enfiado na minha própria boca e não consigo evitá-lo, só dar por isso, não consigo evitar nada, só perceber que se passa o que se passa...Porque é que o deixo crescer? Meu Deus...Porque caralho deixo crescer o cabelo? Nadir Veld

Comiseração (30)

Quando cessarão estes longos períodos de loucura? Quando abrandará esta corrente que me arrasta? Será no alto-mar, entre os escombros do mundo destruído, num sossego apocalíptico? Ou numa ilha feita para um homem acordar, a Ilha em que os homens ressuscitam. Quanto terei de navegar sem rumo nesta tempestade para chegar a esse oásis? Quantos rios mais? Quantas mais noites tenebrosas... Há nesta ilha um morto que acordaste. HÁ NESTA ILHA UM MORTO QUE ACORDASTE! Nadir Veld

Comiseração (29)

O passadiço não é alto, leva só às marés debaixo, ainda que não seja de aço. As tripas traumatizam trazem cobras nas tranças das tipas. As chavalas têm a directoria do nosso coração. Nos dias de delírio e não só...Às vezes é assim, acordamos para delirar, dizemos três coisas profundíssimas entre as três milhões de coisas que pensamos. E raramente recordamos o que pensamos, Às vezes como se me trava o cérebro...Dói...Era só para falar de umas portas de comboio que abrem com ele em andamento...Épico salto final de um suicida, pensei eu, enquanto via um rapaz fumando um cacete para a noite imensa. Ele só podia ser um idiota porque estava a perder a droga para o vento, mas, que dizer desses gajos com alumínio na cana do nariz espetado, rastas malcheirosas e um desses cães de rua, cujo infortúnio de terem semelhantes donos lamento mais que tudo...ainda que eles às vezes descubram coisas...eles têm toda a droga do mundo...ensinaram-me a abrir as portas dos comboios e deram-me duas ou três ou

Comiseração (28)

Espero, porque esperar me leva a um lugar mágico de esperança onde ainda ecoam risadas de cristal. Entre o chilreio nos pátios iluminados de um jardim com bancos de mármore. Bancos para nos sentarmos a esperar. Sempre que encontro um branco, presto-lhe a minha homenagem, dando-lhe a graça de me sentar, esperando neles alguns minutos. Como quando nada se espera, nada poderá aparecer, acabo por desistir e sigo para o banco seguinte, ou para um degrau alto de um bairro lusitano e solto fumo pela boca e fogo pelos olhos. Muitas vezes estou à espera com uma fome dilacerante. Não penso no meu estômago, foco as pessoas, foco-as com mais força, mas não gosto que estejam a comer, isso acaba por ser tortuoso. E os cheiros? O odor a comida pode enlouquecer os estômagos vazios, garanto-vos! Em mim, alerta roncos e eu vejo a carne assando à minha frente...Ah...A fome...a vida...os dias...a espera...a longa espera pela morte solitária. É isso a vida? São só horas passando, ocasionalmente coloridas p

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (8 de Novembro de 1991) P

 Está um cigarro esborrachado em cima da folha em que estava a escrever. Os restos de tabaco, castanhos, estão espalhados inutilmente em cima da superfície branca, entre as minhas palavras...Ainda se eu tivesse uma mortalha, poderia voltar a dar-lhes vida...era o meu último cigarro...e agora está inutilizado...estava a escrever freneticamente, como é meu apanágio, completamente embrenhado no meu fluxo de ideias, quando decidi fumar o último cigarro, tirei-o, mas tive uma nova ideia, por isso pousei-o, recomecei a escrever, saíram-me para aí duzentas palavras de uma vez só. Pousei a caneta, fiquei a olhar, orgulhoso, para o que tinha escrito. "realmente é uma excelente maneira de ver as coisas", pensei. Peguei no cigarro, coloquei-o entre os lábios, fechei os olhos saboreando todas aquelas palavras da minha criação e comecei a acendê-lo. Ainda antes de dar o primeiro bafo no cigarro, tive uma nova ideia, mais brilhante ainda, agarrei na caneta e atirei-a com toda a força da mi

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (25 de Outubro de 2015)

Ultimamente tenho-me queixado demasiado do facto do Nadir ser uma parte de mim...A culpa é minha, fui eu que o criei...Foda-se, é minha...O que me enlouquece mais extraordinariamente é eu não me ter lembrado de conceber uma personagem intermédia...para quê ir logo ao outro lado? Zénite e Nadir, há algo entre eles, bem no mundo metido...Talvez um Deus que cria personagens nos céus...Onde estará esse Deus cósmico? Tenho de o conceber também a ele...

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (27 de Outubro de 2015) P

Estou a insistir no frio enquanto penso que nada partilho...Eu próprio embrenhado em negócios esgotantes que até me impedem de escrever...Vou deixar a Catalunha hoje, repete-se o que aconteceu em Fuzeta há uns anos. Para mim...acabou...sim...esta vida de contrafacção e temores policiais...bom...não foi mau de todo e deu-me vontade...sim...mas mais tarde...agora vou descansar, tirar umas merecidas férias e movimentar-me-ei com determinada resolução...depois de passar um tempo...até eu...demasiado velho para...demasiado velho para...NÃO...ainda sei como viver...não posso insistir nesta comiseração que me é alheia...que me foi transmitida por más vibrações que eu próprio vibrei para a atmosfera a meu redor...como se fosse putrefacta...sim...a minha sombra putrefacta...aquele Nadir, sempre a consumir-se como num inferno, martírio em chamas eternas, sem o corpo morrer, imaginem! Sem o corpo morrer...a pele queimando dolorosamente, os ossos carbonizados, desfeitos em pó negro, dentro do cor

Comiseração (27)

Oh, Meu Deus! O meu organismo está a tentar matar-me! Tenho um sabor horrível e intoxicante na minha boca que parece provir da minha própria saliva, como se de um momento para o outro ela se tivesse transformado no fel mais amargo do mundo. O meu organismo está a produzir veneno e eu engulo sem pensar esta cicuta para o meu coração parar! Que horror, que sabor terrível na língua, meu Deus, todos os factos do mundo me querem matar. Nadir Veld

Comiseração (26) (P)

Está um calor infernal em pleno Outubro, mas as pessoas andam de agasalho e parece que só eu o sinto! Como é possível elas não estarem todas suadas debaixo dos seus espessos casacos se eu estou e nada mais tenho em cima da pele que uma finíssima t-shirt , calções e chinelos? Será que Deus me quer cozer? É isso, só pode ser isso, não pode haver outra resposta! Deus quer que eu morra cozido para já estar pronto para ser comido pelos canibais que me vigiam constantemente, eles só vão precisar de espetar o garfo, nem precisam de pôr tempero, eu já tenho sal que chegue e, não raras vezes, a mostarda chega-me ao nariz! Os canibais estão prontos para me devorar, mas eu não os vou deixar, não, não, nem pensem nisso, caríssimos! Quando me sentir desfalecer vou tirar tudo o que tenho dentro do frigorífico, incluindo as prateleiras, e vou-me meter lá dentro! Venham cá buscar-me agora, seus salafrários! Ahahahaha. Ah, sim, vai ser tão bom, depois de todo este horror em quentes temperaturas revela

Comiseração (25)

O meu peito está a tentar matar-me, tenho a certeza! Ele hoje rugiu como não rugem cem mil sarcófagos e um império de mortos erguidos dos seus túmulos mil anos depois! Ele hoje rugiu e sentiu mais trevas que um desfile de amputados em busca de membros biónicos. O meu peito é o impulsionador principal dos meus saltos convulsivos, não são as minhas pernas; as minhas pernas nem sequer têm a opção de não saltar. É o meu coração que dirige os meus saltos! Salto a partir do meu peito, é ele que me quer matar! O meu cérebro está a tentar matar-me, também! É ele que dirige e controla as minhas convulsões! É dele que partem e descem numa onda eléctrica as minhas recordações humilhantes feitas energia cinética que criam movimentos surpreendentes, que me apanham desprevenido e deixam toda a gente a olhar para mim. "Está tudo bem, não se passa nada, lembrei-me que me esqueci de uma coisa". Falo sempre com segurança, mas a negra cortina está cada vez mais cerrada em frente dos meus olho

Comiseração (24)

Há uma imagem que, por mais que tente, não consigo apagar da minha cabeça: - Uma mangueira sem qualquer mão a conduzi-la, perdida no chão, a brotar água abundante da sua boca copiosa para a terra, em que se vai formando um charco cada vez maior de água que já não consegue penetrar no solo de tão enlameado que ele já está e o meu cadáver estendido no chão junto da mangueira e da água e da terra. Estou em tronco nu e não tenho manchas de sangue à minha volta nem marcas de golpes no corpo, mas as manchas de sangue podem estar diluídas na água e as marcas de golpes podem estar nas minhas costas uma vez que estou de barriga para cima. Sempre senti algo de muito natural quando estou a regar, como se fosse a única coisa que nasci para fazer, como se algo de mágico me unisse à água e à terra. Quando morrer a regar terei uma morte feliz. Nadir Veld

Comiseração (23)

Nunca poderei ser um grande artista porque insisto na minha sinceridade envergonhada. Nunca sou totalmente sincero naquilo que digo e escrevo; escondo sempre coisas, muitas coisas que são tão terríveis que eu nem sequer sou capaz de as escrever para as apagar a seguir - sou completamente incapaz sequer de as escrever à mão numa folha, sabendo que depois a posso amarrotar ou até queimar. Quando me lembro de certos acontecimentos sou acometido por espasmos terríveis e tenho de agarrar a minha cabeça para que o cérebro não expluda. São recordações que existem apenas como torturas para povoarem a mente mutilada. Eu acho que para alguém escrever muito bem precisa de já ter vivido momentos angustiantes, em que a vida perde todo o sentido e resta apenas uma nuvem negra cheia de tormentas para acompanhar para todo o lado o corpo interiormente adormecido, mas esse escritor deve falar das suas mágoas com uma totalidade absoluta, sem medos, sem barreiras, disposto até a auto-humilhar-se, contudo

Comiseração (22)

Quão lamentável é ter nascido nesta parte do mundo tão tranquila, em que grande parte dos terrores e aflições de uma vida verdadeiramente atormentada estão indisponíveis. Aqui, neste canto da Europa chamado Portugal, buscamos tristeza com sucesso, mas não deixamos de olhar com inveja para aqueles que são bafejados pela sorte de uma vida verdadeiramente difícil, em que a luta pela sobrevivência é travada todos os dias, quer seja fugindo de balas de morte certa, quer seja buscando comida para vencer a fome destemida, que enche os estômagos de vazio e secura penetrante. Trocava a minha imutável dor por um desafio, por uma dificuldade tão grande, que não me deixaria mais que pensar a não ser vencer esse obstáculo, esse obstáculo tão grande que me faria esquecer o meu passado turbulento, mas tudo continua calmo neste extremo do mundo e até a comida me cai das árvores na cabeça... Nadir Veld

Periquito repousado (TRÊS LINHAS) - HAIKU?

Patas de periquito no parapeito Repouso nas asas e no peito Satisfeito com o sossego perfeito

Tumbas para todos

Uma tumba para ti, uma tumba para o outro Uma tumba para todos os que tombam Tomando a rota do reino eterno Voando sós para o mundo externo Trágicos e desamparados enquanto almas Mágicos e agora sagrados enquanto corpos Velados por olhos de lágrimas toldados Coitados dos tombados malogrados Nunca mais vão ser acordados E não mais serão por luz motivados Depois dos rituais que lhes são consagrados Alvos Millar

Comiseração (21)

A mão gélida da morte esteve aqui a estrangular-nos o pescoço todo este maldito Verão. O seu gelo arrepiante chega quando menos o esperamos e oprime-nos terrivelmente, guardando um ar tenebroso, o ar mais pesado do mundo nos pulmões, no lugar da alma e é esse ar que nos mantém vivos. Quando o ar da alma está poluído, dificilmente pode voltar a ser saudável, por isso este peito frágil não evita a tristeza do mundo, mas a alma não fica doente pelas vias respiratórias, a alma fica doente pelos olhos e pelos ouvidos Nadir Veld

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (15 de Agosto de 2015) + Comiseração (22)

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Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (15 de Agosto de 2015) Tenho muita pena de não ter estado a controlar o meu corpo quando ele se cruzou com este senhor em Cáceres, Espanha. Infelizmente, quem estava a capitanear os movimentos do meu corpo às 11:32 (hora a que foi tirada a foto) do dia de hoje era nada mais nada menos que o infame Nadir Veld e isso vê-se na imagem, tímida foto de um pedinte, tão tímida que os ângulos choram a mágoa dos olhos que vêem, mas não fazem por concretizar as suas visões por medos e por acanhamentos incompreensíveis. O que posso dizer? Era muito cedo, tinha acordado há menos de uma hora e numa altura tão inicial do dia não costumo estar apto para fazer certas tarefas...Vindos dos meus sonhos tenebrosos, alguns fantasmas assomam na minha alma e são eles que nela imperam pela manhã...Se eu tivesse nas minhas habituais e sãs faculdades ter-me-ia baixado na horizontal com o homem e tirava a foto, se não mais baixo, à altura dos seus olhos tristes qu

Comiseração (20)

Adio sempre aquilo que tenho de fazer com medo do insucesso da minha empreitada. Se falhar, um temor imenso invadir-me-á a alma com vazios e durante anos irei rever no palco da minha imaginação o filme do falhanço, repetindo-se até à loucura, por isso tomo uma atitude de preguiça e sigo sozinho nas vias da lassidão. Ainda giram à minha volta todos os sonhos frustrados da minha vida. Com os olhos desalentados persigo-os enquanto esvoaçam no ar, não os posso perder de vista, talvez ainda os consiga alcançar. Enquanto estiver viva a chama que os alimenta possa sempre tentar. Não partam sonhos meus, não, não, não! Deixo que a esperança banhe as vossas praias solarengas, ainda que seja só de tristeza feita essa luz que alumia o sonho. Quem fará tudo o que deixei por fazer senão o meu mais tenebroso inimigo? Nadir Veld

Comiseração (19)

É mesmo tristeza este sentimento de vácuo no peito? Não poderá ser parte do céu perto de se abrir para encher o espaço? É um vazio tão vasto que o céu teria de aumentar para nele poder ter lugar, para onde irá quando eu morrer? Acho que o sofrimento não morre com uma pessoa; a dor fica na Terra e forma fantasmas que se ocuparão de levar para outras paragens a tristeza antiga, que nunca desvanece na Terra. Deve haver um anjo de Deus, cuja ocupação é manter o equilíbrio da tristeza e da dor neste mundo desgraçado. E esse anjo tem feito um bom trabalho. Nadir Veld

Comiseração (18)

Já deixei de conseguir ouvir música. Há muito que sabia que este dia ia chegar, pois estava a tornar-se cada vez mais doloroso para mim ouvir canções, pois aquelas que eu gostava de escutar, despertavam em mim recordações dolorosas. Agora todas as canções me fazem lembrar da minha dor, do terror da minha existência, da humilhação que tem sido viver a vida neste corpo absurdo e mal construído por um Deus cruel. Eu já vivi todas as histórias que cantam esses artistas do mundo, já as vivi e já as sofri, não suporto mais ouvir falar delas. As rítmicas sonoridades, os acordes bem inventados, só acordam em mim um monstro tenebroso que enche de medo a minha alma e transporta demência por todas as minhas veias, regando de loucura este cérebro imparável, sempre pronto a construir ideias assustadoras e pesadelos para o corpo. A arte de cantar não oferece consolo a quem está à espera da morte na Primavera da vida. Nadir Veld